2009-12-03

Google ou Googol

Um dia, em 1938, o matemático norte-americano Edward Kasner perguntou ao sobrinho que nome haveria de dar a um número muito grande. O rapaz tinha apenas nove anos e ficou espantado quando o tio lhe mostrou o número. Era 1 seguido de 100 zeros. Para o jovem tratava-se de uma quantidade tão inconcebível que lhe chamou um nome inventado: GOOGOL – o que é o mesmo que dizer “OOHOHH”!



O nome pegou e ainda hoje é utilizado. O googol é pois 10 à potência 100, ou seja, 10 vezes 10 vezes 10 …com esta multiplicação repetida 100 vezes. Se usarmos o acento circunflexo para denotar a exponenciação, como muitas vezes se faz em texto corrido, o googol será 10^100. Escrito na base decimal será um comboio: 10000000000000000000000000000000000000000000000000

000000000000000000000000000000000000000000000000000. Não é de espantar que o miúdo tenha exclamado GOOGOL!!!

Kasner inventou depois outro número ainda mais gigantesco: 10 levantado a um googol, portanto seguido de um googol de zeros … Poderia ter-lhe chamado GOOGO-GOOGOL, mas foi mais conciso e chamou-lhe googolplex.



O googol e o googolplex levantam problemas curiosos. O astrónomo Carl Sagan sublinhou no seu livro Cosmos que não existe matéria suficiente no universo para os escrever por extenso em notação decimal. O número total de partículas no Universo está estimado em cerca de 10^80, ou seja, 1 seguido de 80 zeros, menos do que um googol. E se todo o espaço fosse preenchido de forma compacta por neutrões, apenas haveria 10^128 partículas, muito menos do que um googolplex.



O especialista em computação Frank Pilhofer calculou o tempo necessário para gerar o googolplex num computador. Repare-se bem: não é o tempo de impressão em papel, nem sequer no ecrã, mas o tempo de escrita na memória. À velocidade actual de processamento, essa escrita levaria qualquer coisa como 10^80 anos, ou seja, tantos anos como o número de partículas existentes no universo!



É prodigioso ser capaz de conceber números que não se conseguem escrever por extenso. Há mais de 22 séculos, Arquimedes teve o mesmo fascínio e escreveu um pequeno livro em que explicava como se pode contar sem limites, havendo mesmo um número possível para o total dos grãos de areia existentes sobre a Terra.



O fascínio com os números grandes, nomeadamente com o googol, contagiou Larry Page e Sergey Brin, dois estudantes de Stanford que em 1996 criaram um motor de busca na Internet. Quando fundaram uma empresa para o comercializar, chamaram-lhe Google, inspirando-se no googol. Na realidade , em inglês as duas palavras podem pronunciar-se da mesma maneira.



O Google e outros motores de busca são prodígios da tecnologia e da inventividade dos engenheiros informáticos. Indexam milhares de milhões de páginas da Internet e procuram o que pretendemos a uma velocidade espantosa. Recolhem informação trabalhando 24 horas por dia, criam índices monstruosos, resolvem sistemas de equações gigantescos e têm arquivos de informação maiores que todas as páginas de todos os livros da maior biblioteca do mundo. São extremamente úteis para os utilizadores da Internet, que de outra maneira estariam perdidos num oceano disperso de informação.



As tarefas que os motores de busca realizam são tão gigantescas que faltam adjectivos para as qualificar. Poderia dizer-se que são tarefas ciclópicas, mas a palavra é capaz de ser um pouco antiquada. Talvez nos possamos lembrar do googol e dizer que são tarefas googólicas.



O nome é novo, mas pode ser que pegue. Sobretudo se for inventado por um miúdo de nove anos.





Nuno Crato

In “Expresso 15 Janeiro 2005/ÚNICA 63”

1 comentários:

Anônimo disse...

gostei

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